Wednesday, April 20, 2005

 

Capítulo 2

Em meio a toda expectativa e excitação, a figura absurda que adentrou o cabaré, quase serviu como um anticonceptivo.Broxou parte do clima inebriante.Seu rádio estérico quebrou o embalo do tango lascivo que tocava ao fundo.Femme e suas moças, que depois do show de cam cam já se preparavam para preliminares da batalha, entreolharam-se com misto de espanto e riso.Afinal, o que é um grande evento sem um pequeno incidente?Incidente esse que deveria ser resolvido com um certo charme.Não poderiam espulsá-lo porque como todos os outros, ele era um freguês.No entanto teriam quer tomar providências rápidas antes que seu acompanhante, o rádio, desestimulasse os visitantes já muito empolgados.A senhora Fatale, a qual se encontrava no bar pitando seu cigarro e entorpecida pelo andar-bailado de Taradinho, fez sinal para que uma de suas meninas fosse recepcionar a tosca criatura.Ana levantou do colo onde estava sentada repartindo boca a boca um petisco, aumentando o decote.Maria sai da mesa em que estava deitada bebericando o drink de um senhor, ajeitando a saia.As duas tecem então uma pequena discussão para decidir quem vai se ocupar do desvario dançante de reagge.Após um tempo de milésimos dissertando de modo dialético sobre o assunto, resolveram no tradicional par ou ímpar que Ana deveria distraí-lo.A outra moça vira-se para o lugar onde estava e lança um sorriso de canto de boca à seu acompanhante.Retorna assim a seu posto.A garota de Amisterdan também não perde tempo, sai em direção ao seu estorvo.Mas, logo que chega bem perto não consegue ver nos olhos dele a excitação normal de um homem quando percebe um corpo tão desejável.Ela já duvidosa resolve tocar-lhe de leve a face.Não fazendo efeito a nova tentativa, Ana parte para o ataque desligando seu rádio, retirando as pilhas e as colocando dentro do decote.Wood, que não mudava de expressão, nem ao menos se zangou.Sentou no tapete puxou um cigarro, daqueles que se proibia, e permaneceu a observar.A moça aliviada de não ter que mais acompanhá-lo vai serelepe ao encontro de um senhor garboso com pinta de rico.
Enquanto a sinuca fervia, a roleta do cassino rodava e a fumaça dos inúmeros charutos se misturava aos risos e gemidos, Femme ouvia a divagações alcoolizadas de Ducéu.E esse homem de fartas carnes que lhe dirigia elogios ébrios, já esgotava sua finita paciência.Seus pensamentos mais baixos se voltavam agora para a mesa em frente.Lá estava ele, aquele que lhe povoava os desejos. Ela sem mais se importar com a importância do xerife, hipnotizada resolve se aproximar de Taradinho.Esse que exalava como um animal todo seu charme.Os dois não trocaram uma palavra.Bastou um olhar acompanhado de uma cadeia de movimentos sensuais para que ele a acompanha-se até o que Fatale chamava de suíte presidencial.Começaram a subir deslizado sorrateiros como cobras.Quando ela definitivamente alcança o andar de cima, o homem de bigode assanhado olha para trás dando de viés uma piscadela para as duas outras damas da noite.As fogosas atrizes que fingiam se divertir em meio a políticos, farmacêuticos e bancários sem tempero, deliram internamente e chegam até ao desconcerto tamanho o encanto do malandro.
A grande festa naquele paraíso infernal começava a embalar a madrugada.Fora dos limites das paredes de veludo vermelho, podia-se ouvir os sons do prazer.Movido por um misto de curiosidade e exaustão da passividade de uma vida de fachada, Julinho de Adelaide, o escritor da Rebimboca, resolve seguir os sons guturais e bem expressivos.

Thursday, March 10, 2005

 

Capítulo 1

Entre coxas e bananas, eis que surge de um grito gozado uma peculiar republiqueta. Localizada em meio às Ilhotas de Langherans e rica em bigodes, decotes e algemas, tal republiqueta é povoada por um pequeno número de paquidermes, corrupção, fraquezas da carne, dengues e cóleras. Selando a pitoresca civilização, o local ainda conta com a presença de uma bruxa canibal que habita a Caverna da Rebimboca e que, assim como os demais habitantes dali, dá o que falar. E esse encantador pedacinho de céu, onde Deus porta tridente e Diabo é respeitável entidade, tem como nome oficial República Federativa do Balacubaco.

Nossa história explode em purpurinas, plumas e paetês, na noite de estréia do local referência dessa república: o cabaré. Este espaço único de prazer e diversão foi reformado após ter sido comprado por uma dama, ainda obscura aos ainda pacatos e superficiais moradores daquela cidadezinha qualquer. O cabaré possuía um letreiro luminoso, onde uma mulher, num movimento uniforme, cruzava e descruzava as pernas. Penetrando o instigante local, era possível ouvir os sons guturais e aconchegantes de boas-vindas para a fiel clientela, o que exalava o gosto doce das transa-ações. As dependências daquele lugar eram devidamente adequadas às necessidades dos corpos que, dotados de pecado original e permanente, encontravam-se para celebrar a vida. Havia o palco no centro para as artistas, estas que carregavam no corpo a região que lhes era matéria-prima para suas obras. Um bar era facilmente encontrado na lateral do salão, para servir de combustível às atividades noturnas. O salão possuía também escadas ao fundo que se enroscavam e se encontravam feito serpentes. Por aqueles degraus escamosos subiam homens ébrios e mulheres vaginais. Apesar de não ser preciso, já que importavam mais as atividades que a denominação, este dissoluto antro atendia pelo nome de Lãs Richiteiras. E sendo aquela noite de estréia abafada e litorânea como tantas outras, os sobreviventes da última e escusa ressaca financeira compareceram ali em peso.

Ao apagar da luz do dia, a casa abria-se em um movimento ginecológico. O xerife, que no momento ocupava o cargo de presidente da republiqueta, foi o primeiro dos clientes a chegar. Claro! Afinal de contas, ele precisava averiguar os predicados de uma senhora conhecida como a responsável por aquele local. Essa senhora era Femme Fatale, mais irresponsável e atraente do que realmente responsável pelo cabaré. E, cumprindo um de seus papéis, a senhora Fatale dava as boas-vindas a quem chegava ao local. Com Ducéu – o xerife – não foi e nem seria diferente. Muito menos com os demais ardentes clientes que não paravam de chegar.
Como um deles que acabava de introduzir seu corpo no local. Entrava no cabaré com o olhar por cima – e pensamento no embaixo de todos –: era o malandro de maior fama e eficiência da República do Balacubaco. Essa sua fama nada tinha de límpido. Construída pela sua roupa branca, chapéu de palha e afiada navalha, essa notoriedade de malandro de bigodinho indecente originou-lhe o nome pelo qual era conhecido: Taradinho do Andaraí. Sua voz inconfundível, seus olhos e todas aquelas balelas ditas importantes para os relacionamentos, eram superados pela sua positiva performance quando estava no cabaré em uma das camas, com uma das prostitutas. Ou com as duas.

Essas prostitutas eram trabalhadoras incansáveis contratadas por Femme Fatale e tinham até a carteira assinada, já que trabalho ali não faltava. Mas pouco se sabia sobre suas personalidades e interesses. Isso ficava fora do contrato.

Quando enfim o salão estava cheio, surgia do tudo que era o palco à meia luz um ainda nada vulto de mulher misteriosa. Num hobby de plumas pretas nascia então Femme Fatale que era acompanhada pelas ocultas e principais donzelas da noite: Ana de Amsterdan e Maria Brasil, as tais prostitutas. Assim estava tudo pronto para que fosse realizado o show que abria tudo, das atividades do salão ao que mais fosse desejado. No compasso do can can, elas acalentavam o gozo noturno. Inspirando os sedentos olhos e membros mais baixos dos corpos com seus trajes e bocas provocantes, as três conduziam os sonhos infernais de todos. A ansiedade de ter as moças fora do palco era regada com as bebidas fortes e charutos exagerados no local.
Quando a excitante apresentação terminava, Femme e suas meninas desciam em direção ao público. Os homens já se encontravam, a essa altura, loucos para logo subirem aos quartos. Grande, entre outras coisas, era a vontade de ter, pelo menos por um instante, as mãos segurando aqueles corpos tão perfeitos. Mas quando finalmente a função da casa estava pronta para começar, eis que surgiu Woody Allen entrando com seu rádio tocador de reagge no cabaré.

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